Estórias de Ferreira

Chamo-me Rui Antunes, sou de Ferreira do Zêzere e gosto de estórias... reais ou imaginárias, estórias da vida, de sucessos ou insucessos, prometo partilhar as minhas, espero pelas vossas...

A minha foto
Nome:
Localização: Odivelas

31.5.06

Discos Pedidos

Foto do Pedro Lopes em estúdio durante uma emissão, este é o estúdio de emissão dos actuais estúdios em Ferreira do Zêzere antes da "informatização" da rádio.

A rádio é um verdadeiro veiculo que tem como principal força a capacidade de entrar em nossas casas e nas nossas vidas com uma facilidade extraordinária, essa é uma das virtudes da rádio, a capacidade de comunicar, de informar.

Ao contrário do telefone, que apenas permite que o emissor comunique com um ouvinte especifico, na rádio um emissor fala para múltiplos ouvintes, claro que o telefone permite que a comunicação seja bidireccional, na rádio isso não é possível, o ouvinte não pode responder à mensagem difundida pelo emissor, ou pode ? Pode se juntarmos ao radio o telefone, essa é a formula encontrada para que o ouvinte possa também ele ser um participante na emissão, no diálogo. A forma de conjugar esses dois veículos de comunicação abriu a porta a programas com passatempos, a programas de linha aberta, a foruns, a debates, e aos discos pedidos.

A maioria das rádios locais (e não só) têm programas de discos pedidos, são por definição programas em que o ouvinte intervém para pedir uma música e que normalmente dedica a alguém.

O Emissor Regional do Zêzere é uma das rádios do nosso país em que esse tipo de emissão tem uma grande tradição, já no tempo da Rádio Club do Zêzere se fazia o “Ao Gosto do Ouvinte” que quando eu cheguei à rádio era um enorme sucesso, ia para o ar diariamente das 19:00 às 20:00 naquela altura com a Otilia Ribeiro. Quase toda a gente que alguma vez esteve na rádio fez discos pedidos, lembro-me da Patricia Mendes, do Pedro Lopes, da Ana do Carmo e da Paulina que ainda hoje mantêm esses programas.

Confesso que era dos programas que menos gostava de fazer, a dificuldade não estava em falar com o ouvinte mas sim em descobrir nos discos as músicas que pedia, os bastidores de um programa destes são mais ou menos assim : O telefone toca, normalmente ainda antes de abrirmos o programa, o ouvinte pede uma música em “off”, o locutor procura o disco, coloca no leitor e prepara a faixa, prende a linha (coloca a chamada em espera para entrar na emissão), abre o microfone, faz a apresentação e chama o ouvinte, este pede a música no ar, faz a dedicatória e diz a frase (quando há patrocínio) do tipo “Quer almoce quer jante, Lago Azul Restaurante”.

Ora neste processo há montes de variáveis que podem falhar, senão vejamos:

O telefone pode não tocar, é como ir a pesca, há dias em que o peixe não morde, neste caso os ouvintes podem não aparecer. Se assim for é preciso improvisar, um programa de discos pedidos sem pedidos é como um jardim sem flores, então lá vai : “vamos ouvir o Tony Carreira, um pedido que nos chegou por carta do nosso ouvinte José do Entroncamento, para dedicar aos colegas de trabalho”, claro que não há José nenhum, mas como dizia o Fredie Mercury “the show must go on”.

O ouvinte não sabe qual o nome da música e do artista, isso é quase sempre assim, o locutor apanha de tudo, “olha é aquela em que tem a frase : nanananna foi por traição nanana e por amor....” e é claro que eu nunca conseguia acertar na música pretendida “mas é de quem? Da Àgata ? – humm não sei bem” e claro que isto tem de ser resolvido em menos de 4 minutos, tempo normal de uma música. Quando entramos nos últimos 30 segundos e não encontrámos a música vamos à solução de recurso, pegamos no primeiro disco que nos vier à mão e dizemos ao ouvinte “desculpe mas não faço a mínima ideia de qual a música que quer ouvir, vou por o Marco Paulo com a Nossa Sra de Fátima” , claro que tem de ser uma música inquestionável para que o ouvinte aceite de imediato.

Quando entramos no ar e chamamos o ouvinte este não fala, esse é outro dos riscos, nesse caso a situação é resolvida com o disco de recurso, está colocado e alinhado para o caso de não conseguirmos por o ouvinte no ar, é simulado outro pedido de “papel e caneta” (termo bastante original criado pelo Pedro Lopes) enquanto vemos o que se passa com a chamada.

O ouvinte no ar esquecesse de qual a música pedida ou que foi combinada e diz outra qualquer. Bom neste caso não há muito a fazer, apesar da vontade ser soltar um palavrão de imediato a solução é dizermos assertivamente, “amigo Manuel, vamos ouvir o João Pedro Pais... - àh sim pois, é isso !!”

As dedicatórias sem fim. Esta é uma das piores situações que se podem apanhar, sobretudo quando estamos a meio de um programa CHEIO de participações, temos já outro ouvinte em espera e o primeiro continua alegremente a dedicar aos vizinhos todos, e não é só “dedico aos meus vizinhos” mas sim, “dedico ao João que mora na rua de baixo e que tem um tractor azul e que à bocado andava na vinha a sulfatar as videiras que com este tempo estragam-se todas com a moléstia, à Fernanda que foi à bocado a Ferreira para ir ao centro de saúde para ver se apanhava uma consulta de recurso porque está mal das costas, ao Francisco que veio aqui à bocado pedir emprestado um saco de batatas de semente para semear na horta de baixo ali ao pé do açude e ao.... e ao.... e ao ....” é claro que por vezes temos de interromper, a técnica é esperar pelo intervalo de uma respiração e dizer rapidamente “muito obrigado pela participação” enquanto se fecha a via para “cortar o pio ao ouvinte”.

Estas são apenas algumas das situações, como vêm não é assim tão simples gerir um programa de discos pedidos, mas no fim da emissão acabamos por ficar sempre com o sentido de dever cumprido, afinal conseguimos dar voz a um conjunto de pessoas que muitas vezes vive na solidão, um serviço público gratuito que deixa certamente muita gente feliz.

Fica aqui a minha vénia a quem já fez e/ou continua a fazer este tipo de programas.

30.5.06

Abanar os Tanchões





Texto de Carlos Carifas
Foto apenas ilustrativa







Quando nos aproximamos, nesta fase da vida, ao período a que convencionaram chamar de terceira idade, tendemos também a fazer exercícios de reflexão, passando em revista o que foi a nossa vida até aqui, recordando e gostando mesmo de partilhar as incidências vividas nos acontecimentos mais marcantes que nos aconteceram nos anos antecedentes.

Todos as temos e quase todos as guardamos na nossa intimidade. Partilhá-lhas é oferecer o conhecimento dessas experiências que poderão enriquecer, moldar ou prevenir atitudes e comportamentos.

Sou produto de uma geração pobre, muito pobre, que agarrou a vida por pequenas e ocasionais oportunidades, mas sempre com a força e determinação de quem assimilou cedo que trabalhar, cumprindo obrigações é a solução para a sobrevivência, com dignidade.

A formação base para esse percurso era, é, e será sempre o estudo que a Escola nos proporciona.
O meu pai nascido em 1900 só frequentou a escola por seis meses, porque foi obrigado a trocar os livros pela enxada, ficando analfabeto toda a vida. A minha mãe fez a apenas a 2ª classe, mas sabia, apesar disso, ler e escrever correctamente.
No meu tempo as mentalidades já estavam um pouco corrigidas, com normas de obrigatoriedade para a frequência dos quatro anos do ensino elementar.
Porém, o ensino ainda era ministrado por alguns professores de então com palmatórias e varapaus em procedimentos de regime de escravatura, que antes já tinham provocado o abandono de muitos.
Ainda hoje é possível ouvir os poucos velhotes sobrevivos que ainda terão ido à Escola com o Prof. Camílio, de Paio Mendes, descrever a violência que utilizava nos seus processos de ensino.
Se tivesse que fazer uma auto avaliação do meu perfil de aluno, diria que era um aluno normal, sem manifestações de especiais apetências ou argúcias, que ia resolvendo as questões à força da dedicação que entendia dever ter.
Na 4ª Classe, tive como mestre o prof. Mineiro, oriundo de Torres Novas. Todos os meus companheiros de então se recordam dele, certamente sem saudades.
Fui vítima de agressões deste homem que me provocaram mazelas e terror à Escola, a que só o meu pai conseguiu por cobro pela sua coragem e determinação em vencer as barreiras que a figura de um prof. Primário representava numa terra de interior como a nossa.
Era vulgar, como me aconteceu a mim, fazer a leitura de um texto em que ele se colocava ao nosso lado com uma cana da Índia e por cada erro de leitura levávamos uma vergastada nas costas. Ficávamos com as costas negras, marcadas de tantas pancadas quantos os erros que déssemos.
Um dia, fui chamado ao quadro para resolver as áreas de diversas figuras geométricas que ele lá desenhara. A simples chamada era aterradora. Era como se fossemos para o patíbulo. Lá fui e encontrei as soluções certas para as primeiras três ou quatro figuras que ele desenhara. Na última errei a solução. Como um torpedo humano saltou da secretária e agrediu-me com um violento pontapé na coxa. Lembro-me que ele tinha uns sapatos com biqueira fina. Fiquei com a perna negra e a coxear tive dificuldade em chegar a casa. Era de tal modo grave que a minha mãe me levou à Frazoeira para ser observado pelo Dr. Real.
À noite quando o meu pai regressou do trabalho e posto ao corrente do que se passara, tomou a decisão de ir no dia seguinte falar com o professor. Tive a agradável sensação de protecção e de carinho com esta atitude do meu pai. Muitos entenderiam que a autoridade do professor era inquestionável. Talvez por isto e não só, o meu pai foi desde sempre o meu único ídolo.
No dia seguinte fui para a Escola pela mão do meu pai. Chegados à porta da sala de aula, o meu pai mandou chamar o prof. por um colega que ia a passar, sem que eu lhe largasse a mão.
Quando o prof. aparece à porta, o meu pai no seu estilo de homem sem medos, atira-lhe:
- OUÇA CÁ!. EU ALGUMA VEZ LHE ABANEI OS TANCHÕES?
Como sabem, chama-se tanchões às oliveiras novas e frágeis, em fase de crescimento, quer requerem cuidados.
Não me recordo do mais que foi dito. Lembro-me de ter tido receio do meu pai o poder agredir, porque era homem que resolvia muitas vezes as suas divergências pela força, sobretudo na sua taberna. Lembro-me, isso sim, que terminou a conversa com o aviso que iria no dia seguinte a Santarém apresentar queixa dele ao Inspector Escolar, virando-lhe as costas.
Entrei para a sala de aula afoito e descontraído como se levasse atrás de mim um batalhão de seguranças. Sabia que o meu pai repusera as coisas no seu lugar.
Nesse mesmo dia à noite, apareceram em minha casa as forças vivas da freguesia (regedor e cabo de ordens, julgo) acompanhadas do professor a apresentarem desculpas e a tentar demover o meu pai de apresentar a queixa.
Convenceram-no a desistir da queixa, com o acordo de que me prestasse explicações até final do ano escolar para que eu fizesse também o exame de admissão aos Liceus e às Escolas Técnicas.
Faltavam três meses para o final do ano. Nunca mais me bateu, mas passei o resto do tempo, até aos exames, a ser o mais sacrificado, quer na Escola quer nos trabalhos de casa, por força do contrato que fizera com o meu pai, de quem se vingou no preço que lhe cobrou, no dia em que terminei as orais, na Escola Industrial e Comercial de Tomar, sem que tivesse perdido um minuto sequer para além do horário normal das aulas na Escola.
Ainda me lembro da revolta do meu pai, quando vinhamos de Tomar, na camioneta, ao exclamar:: - Malandro, vingou-se-me na carteira..Levara-lhe Esc. 300.00, isto em 1954, que pagou sem regatear.
Dos meus companheiros, recordo-me especialmente do José Luís da Maria do Olheiro que foi igualmente um mártir, entre outros.

CCARIFAS

O Picoto e os Tarocos



Texto de Carlos Carifas
Foto apenas ilustrativa


Frequentei a Escola Primária de Paio Mendes até concluir a 4ª classe e o Exame de Admissão ao Liceu e às Escola Técnicas, como se chamava naquele tempo, entre os anos de 1950 e 1954.
Tive vários professores, sendo que o primeiro e melhor amigo das crianças que conheci foi o Profº. Leopoldo, casado com a Profª. Conceição, esta terror das raparigas de então e até certo ponto dos rapazes, quando resolvia fazer investidas à nossa sala para corrigir indisciplinas que o marido permitia. Esta mulher era uma disciplinadora austera que incutia medo nas crianças. A sua casa, ainda hoje existe à direita do início da descida do Salão de Cima, na estrada que vai para Dornes. Cruzava-me com ela, a medo, nas muitas vezes que fazia o percurso para a taberna do meu pai, que se situava perto da sua casa.
Mas este ainda foi o mal menor com que convivi na Escola. Todos os meus colegas daquele tempo se recordam certamente, dos professores Janeiro e Mineiro da 3ª e 4ª classes. Se é certo que o prof. Janeiro, que, se bem me recordo, era regente e razoavelmente tolerante, o prof. Mineiro era um carrasco violento que provocou mazelas e traumas em muitos de nós. Um dia contarei o que me aconteceu com ele.
Terá sido o prof. Janeiro que nos mobilizou para uma visita ao marco geodésico da serra da Junqueira, que nós conhecíamos apenas por Picoto. Passado já mais de meio século, espero não cometer imprecisões que a memória já não consiga retractar fielmente.
Ficámos todos excitados e expectantes para tamanha e original aventura. Neste tempo ainda não havia hábitos de ocupação de tempos livres, nem de visitas a museus ou idas à praia. A maior parte de nós ocupava os seus tempos livres a guardar gado ao fim da tarde, descobrir ninhos de passáros ou a armar as pescórcias. Para muitos de nós já era sorte manterem-nos na Escola até a concluir.
Avisados a tempo os nossos pais para os preparativos daquele dia, criámos a expectativa sonhadora de uma aventura num dia diferente passado longe de casa. A Serra da Junqueira ficava-nos a uma distância infinita. O local mais distante a que me tinha deslocado até então fora a Ferreira do Zêzere, a pé, acompanhar a minha mãe com um porco, para ser vendido no mercado, agitando um saco de milho à sua frente para lhe despertar a gula, que só saciou, perseguindo-o, quando chegou ao mercado.
A minha mãe, ciente da importância que representaria uma visita de estudo, coisa em que nunca tinhamos houvido falar, resolveu ir à loja do Sr. “Catrino” (mais tarde loja do Fidalgo, para os mais novos), comprar-me uns tarocos novos. Estes tarocos eram fabricados com um rasto de madeira bem alto, e o corpo do pé era de uma matéria do tipo papelão prensado, pregado à madeira do rasto. De cor preta brilhante, provocaram-me um sentimento de vaidade que o resto da farpela que a minha mãe preparou para eu vestir nesse dia passou para segundo plano. Recordo-me ainda que custaram a exorbitância de Esc. 7.50. (cerca de 4 cêntimos, se fosse hoje).
Foi com pompa e circunstância que os calcei, estreando-os, no dia da ansiada viagem de estudo.
Como calcularão, naquele tempo, logo a seguir ao fim da II guerra mundial, a pobreza e a falta de meios eram o retracto das nossas gentes ainda em recuperação do período de racionamento que viveram. Vivia-se em pura estagnação e sem expectativas no horizonte das nossas vidas. De entre todos os meus companheiros de Escola apenas dois ou três se mantiveram na terra Todos os outros migraram, sobretudo para Lisboa, na ânsia de construir uma vida melhor que aquela que a nossa terra nos poderia oferecer.
Escusado será dizer que fomos para a serra a pé.
O percurso, iniciado na Escola, passou por Courelas, Olheiro, Ribeira do Olheiro, subimos a encosta até à estrada de alcatrão, que pisámos com a satisfação de quem chega a um mundo diferente, e daí seguimos até à Junqueira onde iniciámos a subida da serra da Junqueira até ao Picoto.
Aqui as minhas botas novas já davam sinais de intolerância ao esforço de tanta pedra pisada e à transposição das irregularidades dos terrenos calcorreados, mostrando, para meu grande desgosto, alguns dedos dos pés a espreitarem pela biqueira que entretanto se abrira com o desprendimento da cartolina prensada dos pregos que a seguravam à madeira do rasto.
Ainda consegui chegar calçado ao alto da serra com grande esforço e cuidados no pisar, mas já com bastante incómodo nos pés.
Ali chegados, ficámos deslumbrados com a imensa paisagem que se avistava e discutimos palpites para identificação das povoações que se avistavam no horizonte.
Recorda-me a euforia de procurar pedras de amolar, mais do que observar o Picoto. Sabíamos, por tradição, que em todas as casas da nossa região havia uma pedra para afiar as facas, navalhas ou outras ferramentas que eram trazidas dali em ritual que era cumprido por todos, pelo menos uma vez na suas vidas, quando se casavam ou construiam a sua própria casa. A que o meu pai lá foi buscar quando era novo, é enorme e ainda se encontra fixada junto ao poço da sua casa.
Acompanhou-nos nesta odisseia para além do professor, o Sr. Alexandre “Marinheiro”, da Costa, pai do Adriano do Rogério e do Celestino, que transportou um tacho com comida e o inevitável garrafão.
Não me recordo das explicações que o professor terá dado sobre as funcionalidades do Picoto, nem tão pouco o que comemos, mas retenho na memória o alívio e ao mesmo tempo o desgosto de ser obrigado a deixar os tarocos na serra, completamente desfeitos, e fazer o caminho de regresso confortávelmente descalço.
Recordo aqui com saudade três companheiros desta aventura, já desaparecidos. O Joaquim “Tareco” o Zé Vicente e o Tó Louro.

CCARIFAS

16.5.06

Os Carifas


O Carlos Carifas, leitor assidúo deste blog resolveu lançar um repto aos frequentadores deste blog para que deixem aqui a história das alcunhas das suas familias, a da minha é os "Resineiros" porque essa era a profissão do meu avô Joaquim "Resineiro" da Levada.

A foto é do brazão dos Cotrins e da casa que foi o primeiro dos solares dos Cotrins, onde morou Fidalgo Lopo Martim Canas Cotrim, de quem descendem provavelmente 90% dos Cotrins que hoje existem em todo mundo. Esta casa é propriedade do meu tio Manel e está situada perto do cemitério de Paio Mendes.

Fica aqui a história dos Carifas :

OS CARIFAS

Todas as alcunhas têm uma história que as fez "colar" aos destinatários.
Esta, que haveria de generalizar-se a vários ramos familiares dos Nunes, foi obtida nas seguintes circunstâncias:
Joaquim Carifas, ou melhor, Joaquim Nunes,já falecido em 1967, foi o primeiro titular desta alcunha.
Andando ele a trabalhar numa serruba na zona da Azenha Regal, (perto do Casal da Mata) com cerca de dezassete anos, foi protagonista de um episódio que o rotulou para o resto da vida.
Naquele tempo era hábito os familiares irem levar o jantar pelas 13h30 (hora solar) ao local onde os homens se encontravam a trabalhar, geralmente pelas suas mulheres, quando eram casados, ou pelos irmãos ou mesmo pelos filhos, levado em cesta de vime.
Um rapazote, filho de um seu companheiro de trabalho fora levar o jantar a seu pai.
Enquanto decorria a refeição à sombra de um carvalho próximo da cava o rapaz entretinha-se a brincar na vala da serruba. Sentindo uma repentina dor de barriga, baixou as calças e "aliviou-se" do desconforto, defecando ali mesmo.
O Joaquim Nunes, rapaz fogoso e brincalhão que se apercebera dos movimentos do miúdo, foi, sorrateiramente até à cava, enquanto decorria a sesta e esfregou o cabo da enxada do pai do moço aos dejectos que ele lá deixara, colocando-a novamente na posição em que estava antes.
Acabada a sesta, o pobre homem, dono da enxada, regressou à cava com os restantes companheiros. Ao agarrar-se ao cabo sentiu nas mãos o efeito desagradável da brincadeira que lhe fizeram.
Refeito da surpresa e suspeitando de quem seria o autor de tamanha malandrice, exclamou, virando-se para o Joaquim Nunes: AH!!! MEU CARIFAS!!!.
Foi como um baptismo, que a gargalhada de todos os companheiros de trabalho ajudou a perpetuar. Até ao fim dos seus dias ficou sempre conhecido por Joaquim Carifas. O seu irmão e as quatro irmãs ficaram igualmente alcunhados deste nome.
O termo Carifas caracteriza aquele que é malandreco, brincalhão, gozão, divertido.
Joaquim Carifas, casou, teve 6 filhos e manteve até a sua morte esta designação a que deu alguma respeitabilidade e de cujo tratamento não enjeitava, tal como os descendentes que ainda hoje assim são tratados e o não refutam por noção de algum prestígio que carrega. Esta aceitação, dever-se-à, julga-se, ao comportamento de uma vida respeitável, dele e de toda a restante família, desenvolvida no clima de dureza e dificuldades que eram próprias da época.
Das suas irmãs, a que adoptou e propagou, mais vincadamente este nome, quer nos filhos, quer nos netos, foi a tia Maria Carifas, das Besteiras, onde prolifera em quase todos os membros da família. Nas restantes irmãs o nome diluiu-se na alcunha dos próprios maridos. "Os Mochilas" (Maria Emília) "Os Manganazes" (Maria Elvira) e os "Génios" (Conceição do Génio).

CARLOS CARIFAS

10.5.06

Os novos colonizadores

Confesso que foi com alguma surpresa que ontem ao fazer um zapping pela televisão, vi na imagem a presidente da Câmara Municipal de Vila de Rei, convidada do programa da Fátima Campos Ferreira, que esta semana tinha como tema “os novos colonizadores”. Habituado a ver estes programas quase sempre com convidados de determinadas elites culturais e políticas, estava longe de imaginar que a Irene Barata teria a ousadia de “colonizar” a televisão estatal, mas a verdade é o conseguiu e muito bem.

Foi afinal a ousadia de trazer 6 brasileiros de Maringá para Vila de Rei o pretexto para a sua presença e para a abertura de uma discussão acerca das vantagens e desvantagens desta nova forma de repovoamento do interior, uma discussão que se tem vindo a gerar nos meios de comunicação nacionais desencadeada por esta iniciativa.

Foi a pensar no porquê de tanto alarido que me veio à memória aquilo que uma vez ouvi num curso de jornalismo, a noticia não é o cão que morde num homem, é sim quando um homem morde num cão e vendo bem foi isto que a Irene Barata fez, com esta pedrada no charco.

Conheço à largos anos o trabalho desta autarca, já tive o prazer de a entrevistar para a rádio e desde o primeiro momento sempre achei que era uma mulher com garra, com vontade de lutar contra as adversidades. Conseguiu sensibilizar o poder político para a necessidade de uma variante que permitiu colocar Vila de Rei a dois passos de Abrantes, criou zonas industriais com condições de alojamento muito boas, desenvolveu o turismo, criando programas de actividades e roteiros extremamente interessantes que motivaram o algumas empresas de desportos radicais e outdoor a fazerem programas regulares na região, apoia casais jovens a fixarem-se com a construção de loteamentos com infra-estruturas com venda a preços muito razoáveis, criou um museu de artes e oficios na vila e menos de uma ano depois inaugura o museu da Geodesia junto ao marco geodésico, etc... etc... . Conhecendo todo este percurso não estranhei nem um pouco a ideia de fazer um protocolo para a captação de famílias brasileiras.

Trabalhando eu na zona de Lisboa, convivo diariamente com centenas de imigrantes brasileiros, estão em todo o lado, nos restaurantes, nas lojas, pendurados no “orelhão” (cabine telefónica) a matar saudades. Conhecendo esta realidade acabo por não perceber muito bem o porquê de tanta agitação só porque esta autarca se lembrou de abrir a porta a uns quantos para se fixarem no seu concelho, ainda por cima com condições e regras bem definidas coisa que não acontece na generalidade dos casos de emigração.

Não sei se os imigrantes vão ser um sucesso a médio/longo prazo para Vila de Rei, mas para já a Irene Barata já tem a sua aposta ganha, conseguiu dar ao seu concelho uma visibilidade e uma publicidade muito além das suas fronteiras geográficas e quem sabe com esta “operação de charme” não terá atraído mais uma mão cheia de empresários e famílias a estabelecerem-se por lá. Como disse o Dr. António Vitorino ,que até nem é da sua cor política, “continue Irene porque vai no bom caminho”!

4.5.06

Entre "estórias"


Na foto a Maria e as primas em casa do avô Mário na Fonte da Ereira em Paio Mendes, da esquerda para a direita : Gábi, Carolina, Patricia e Maria.



Confesso que tenho andado algo preguiçoso a actualizar as “estórias” mas a verdade é que nem sempre estamos disponíveis para estas lides, como dizia uma leitora num mail que me enviou à dias e que transcrevo :

“... realmente todos os dias costumo ir ver o seu blog e notei que estava um pouco parado , mas para uma pessoa que trabalhe e tenha uma família nem sempre se pode dar atenção a estas coisas que não são nada importantes , comparado com a familia ( nem existe comparação possível ) ! ...”.

A verdade é que estive de FÉRIAS ! pronto cá está o motivo principal... por outro lado outras peripécias como uma mudança de instalações da empresa veio impossibilitar de todo a minha participação, mas enfim, as férias já acabaram, a empresa já mudou de instalações o que quer dizer que as coisas voltaram à normalidade.

Quero agradecer a todos os que têm passado por aqui, uma palavra especial para o professor José Vaz, que é um excelente contador de “estórias” e espero que ele, como prometeu, colabore com alguns textos. Um dia destes irei tentar colocar aqui a possibilidade de ouvirem uma gravação que devo ter algures, da Lenda de Dornes, com uma locução soberba do professor Vaz. Penso que o mais dificil será encontrar a dita gravação no meio da minha colecção de minidiscs :)

Uma outra leitora emigrante na Suiça deixou-me uma mensagem com um pedido, se tiverem hipótese de ajudar deixem aqui nos comentários :

Ola Rui o meu nome é Claudia sou de Paio Mendes ( filha do Manuel mosquito do Fundo da Rua ) !
Estou na Suiça e criei um blog , onde falo de Ferreira e de Sabrosa ( terra do meu marido) e de outras coisas!
Queria publicar algo sobre Paio Mendes , ja pesquisei mas não encontrei nada de concreto , por isso queria pedir- lhe o favor se puder sugerir me alguns sites ou outras fontes de informação , agradecia !
Já agora o meu blog è "entreferreiraesabrosa.blogs.sapo.pt"

Obrigado pela atenção!

Já agora dêem uma vista de olhos ao blog da Cláudia, vale a pena !