Estórias de Ferreira

Chamo-me Rui Antunes, sou de Ferreira do Zêzere e gosto de estórias... reais ou imaginárias, estórias da vida, de sucessos ou insucessos, prometo partilhar as minhas, espero pelas vossas...

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Localização: Odivelas

31.5.06

Discos Pedidos

Foto do Pedro Lopes em estúdio durante uma emissão, este é o estúdio de emissão dos actuais estúdios em Ferreira do Zêzere antes da "informatização" da rádio.

A rádio é um verdadeiro veiculo que tem como principal força a capacidade de entrar em nossas casas e nas nossas vidas com uma facilidade extraordinária, essa é uma das virtudes da rádio, a capacidade de comunicar, de informar.

Ao contrário do telefone, que apenas permite que o emissor comunique com um ouvinte especifico, na rádio um emissor fala para múltiplos ouvintes, claro que o telefone permite que a comunicação seja bidireccional, na rádio isso não é possível, o ouvinte não pode responder à mensagem difundida pelo emissor, ou pode ? Pode se juntarmos ao radio o telefone, essa é a formula encontrada para que o ouvinte possa também ele ser um participante na emissão, no diálogo. A forma de conjugar esses dois veículos de comunicação abriu a porta a programas com passatempos, a programas de linha aberta, a foruns, a debates, e aos discos pedidos.

A maioria das rádios locais (e não só) têm programas de discos pedidos, são por definição programas em que o ouvinte intervém para pedir uma música e que normalmente dedica a alguém.

O Emissor Regional do Zêzere é uma das rádios do nosso país em que esse tipo de emissão tem uma grande tradição, já no tempo da Rádio Club do Zêzere se fazia o “Ao Gosto do Ouvinte” que quando eu cheguei à rádio era um enorme sucesso, ia para o ar diariamente das 19:00 às 20:00 naquela altura com a Otilia Ribeiro. Quase toda a gente que alguma vez esteve na rádio fez discos pedidos, lembro-me da Patricia Mendes, do Pedro Lopes, da Ana do Carmo e da Paulina que ainda hoje mantêm esses programas.

Confesso que era dos programas que menos gostava de fazer, a dificuldade não estava em falar com o ouvinte mas sim em descobrir nos discos as músicas que pedia, os bastidores de um programa destes são mais ou menos assim : O telefone toca, normalmente ainda antes de abrirmos o programa, o ouvinte pede uma música em “off”, o locutor procura o disco, coloca no leitor e prepara a faixa, prende a linha (coloca a chamada em espera para entrar na emissão), abre o microfone, faz a apresentação e chama o ouvinte, este pede a música no ar, faz a dedicatória e diz a frase (quando há patrocínio) do tipo “Quer almoce quer jante, Lago Azul Restaurante”.

Ora neste processo há montes de variáveis que podem falhar, senão vejamos:

O telefone pode não tocar, é como ir a pesca, há dias em que o peixe não morde, neste caso os ouvintes podem não aparecer. Se assim for é preciso improvisar, um programa de discos pedidos sem pedidos é como um jardim sem flores, então lá vai : “vamos ouvir o Tony Carreira, um pedido que nos chegou por carta do nosso ouvinte José do Entroncamento, para dedicar aos colegas de trabalho”, claro que não há José nenhum, mas como dizia o Fredie Mercury “the show must go on”.

O ouvinte não sabe qual o nome da música e do artista, isso é quase sempre assim, o locutor apanha de tudo, “olha é aquela em que tem a frase : nanananna foi por traição nanana e por amor....” e é claro que eu nunca conseguia acertar na música pretendida “mas é de quem? Da Àgata ? – humm não sei bem” e claro que isto tem de ser resolvido em menos de 4 minutos, tempo normal de uma música. Quando entramos nos últimos 30 segundos e não encontrámos a música vamos à solução de recurso, pegamos no primeiro disco que nos vier à mão e dizemos ao ouvinte “desculpe mas não faço a mínima ideia de qual a música que quer ouvir, vou por o Marco Paulo com a Nossa Sra de Fátima” , claro que tem de ser uma música inquestionável para que o ouvinte aceite de imediato.

Quando entramos no ar e chamamos o ouvinte este não fala, esse é outro dos riscos, nesse caso a situação é resolvida com o disco de recurso, está colocado e alinhado para o caso de não conseguirmos por o ouvinte no ar, é simulado outro pedido de “papel e caneta” (termo bastante original criado pelo Pedro Lopes) enquanto vemos o que se passa com a chamada.

O ouvinte no ar esquecesse de qual a música pedida ou que foi combinada e diz outra qualquer. Bom neste caso não há muito a fazer, apesar da vontade ser soltar um palavrão de imediato a solução é dizermos assertivamente, “amigo Manuel, vamos ouvir o João Pedro Pais... - àh sim pois, é isso !!”

As dedicatórias sem fim. Esta é uma das piores situações que se podem apanhar, sobretudo quando estamos a meio de um programa CHEIO de participações, temos já outro ouvinte em espera e o primeiro continua alegremente a dedicar aos vizinhos todos, e não é só “dedico aos meus vizinhos” mas sim, “dedico ao João que mora na rua de baixo e que tem um tractor azul e que à bocado andava na vinha a sulfatar as videiras que com este tempo estragam-se todas com a moléstia, à Fernanda que foi à bocado a Ferreira para ir ao centro de saúde para ver se apanhava uma consulta de recurso porque está mal das costas, ao Francisco que veio aqui à bocado pedir emprestado um saco de batatas de semente para semear na horta de baixo ali ao pé do açude e ao.... e ao.... e ao ....” é claro que por vezes temos de interromper, a técnica é esperar pelo intervalo de uma respiração e dizer rapidamente “muito obrigado pela participação” enquanto se fecha a via para “cortar o pio ao ouvinte”.

Estas são apenas algumas das situações, como vêm não é assim tão simples gerir um programa de discos pedidos, mas no fim da emissão acabamos por ficar sempre com o sentido de dever cumprido, afinal conseguimos dar voz a um conjunto de pessoas que muitas vezes vive na solidão, um serviço público gratuito que deixa certamente muita gente feliz.

Fica aqui a minha vénia a quem já fez e/ou continua a fazer este tipo de programas.

3 Comments:

Blogger Marta said...

Fica a minha vénia também. Especialmente pelos momentos divertidos que passávamos quando, no meio da meninice e do que era a nossa traquinice da altura, o grupinho (que era o meu das férias) ligava p/ os discos pedidos para se meterem uns com os outros. As músicas eram as preferenciais da altura: os Bros :):):), os Europe, o Phil Collins... E todas as que ouviamos no "Countdown".

Obrigada mais uma vez! :) Ter cá vindo ontem trouxe-me memórias e inspirou o meu post de ontem, onde deixei o link aqui do "Estórias". Espero que não se importe com esse abuso! :)

Marta
http://historiasdemim.blogspot.com

quinta-feira, junho 01, 2006 11:37:00 da manhã  
Blogger Rui Antunes said...

Os Europe com o Final Countdown, Bon Jovi, Phill Collins, Xutos e Pontapés com os Contentores e Eagles com o Hotel California e o New Kid in Town, eram alguns dos discos (de vinil) que mais rodavam naquele tempo.

Quanto ao "abuso", fique descansada!

Cumprimentos

Rui Antunes

sexta-feira, junho 02, 2006 12:59:00 da manhã  
Blogger Marta said...

Os discos de vinil!!! :) Ainda tenho vários, incluindo colectâneas tipo Jackpot 87, com músicas absolutamente inenarráveis de boas! :):)

A música faz parte da minha vida como uma víscera! E sou de finais de 70 (1977), pelo que na adolescência já apanhei mais de sweet old 90's, mas os 80's são imbatíveis.

"On a dark desert highway,
Cool wind in my hair..." :)

sexta-feira, junho 02, 2006 8:19:00 da tarde  

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