Estórias de Ferreira

Chamo-me Rui Antunes, sou de Ferreira do Zêzere e gosto de estórias... reais ou imaginárias, estórias da vida, de sucessos ou insucessos, prometo partilhar as minhas, espero pelas vossas...

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7.4.06

As Curvas de Alviobeira

Agora que já temos uma variante nova que tem como função evitar as “curvas de Alviobeira”, recordo aqui alguns dos episódios que aconteciam nos autocarros da Rodoviária Nacional, quando o apanhava nas Besteiras para ir às aulas a Tomar, onde fiz a secundária na Jácome Raton. As viagens de manhã eram sempre mais calmas, talvez pela hora a que tínhamos de apanhar o autocarro, por volta das 7:00, ainda de noite no inverno. Apanhava o autocarro, normalmente acompanhado pelo meu irmão Sérgio que na altura estudava também na mesma escola, era no autocarro que vinha da Sertã que iniciávamos a jornada até Tomar. A correria começava logo de manhã, o acordar às 6 e picos nem sempre era fácil, quando saíamos lá do fundo das Courelas por vezes conseguíamos ouvir o autocarro a passar no Cabeço do Boi, o que invariavelmente fazia com que o percurso até às Besteiras tivesse de ser feito sempre de passo bem acelerado... a correr para ser mais preciso.

Apanhado o autocarro, encontrávamos quase sempre o Samuel, que morava na Encharia e apanhava o autocarro ali para os lados dos Vales, na Bela Vista entrava mais uma rapaziada, o Vítor Dias, o Jorge Bacalhau, etc... em Águas Belas o Miguel Graça e por aí fora, lá íamos curva após curva, até Tomar.

Antigamente aqueles autocarros tinham dois funcionários, o condutor e o cobrador, o homem que olhava para os passes para ver se a vinheta estava lá, ou tirava os bilhetes quando não havia vinheta nem passe, era uma máquina que tinha uns carretos que eram rodados com mestria de forma a acertar a origem e o destino e depois um manipulo que empurrado vigorosamente com o polegar fazia aparecer o bilhete numa pequena ranhura.

Estas personagens da Rodoviária Nacional pareciam escolhidos a dedo, alguns dignos de pertencer a uma caderneta de cromos. Lembro-me de um baixinho que por norma fazia a carreira da hora do almoço, sempre com cara de quem já estava bem tratado, até porque era hábito uma paragem nas Besteiras para ir beber um copito de vez em quando, outra na Bela Vista porque normalmente ia um leitão à boleia até à Venda Nova, onde era entregue no café restaurante Stop... e prontos, outro copito que já passaram as curvas e quando chegávamos à entrada de Tomar, à Rua de Coimbra invariávelmente gritava lá dos últimos bancos : “Xenhoes paxajeiros exta é a ultima parajem antex da extaxão”.

No regresso, depois de uma jornada de aulas, voltávamos para apanhar o autocarro, normalmente faziamo-lo na estação, vínhamos quase sempre na camioneta das 19:00, que chegava às Besteiras por volta das 20:00, nesse percurso a animação era sempre mais que muita, juntávamo-nos nos bancos de trás e fazíamos de tudo, desde contar anedotas até cantar umas canções tipo :

“Badum badum, badum badum badero...
fui cagar ao cemitério,
lá por trás do arvoredo,
levantou-se um morto e disse,
tens um cu que mete medo....

E lá íamos nós para casa alegremente embalados pelos balanços das curvas Alviobeira !

10 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estórias da Rodoviária?

Comecemos por esta, que até fala das curvas...:

Uma bela segunda-feira, ia eu na carreira da uma e quarenta (à segunda só tinha aulas à tarde), e nessa carreira iam sempre as pessoas que tinham vindo à vila fazer as compras ao mercado (gente da Água de Todo o Ano até à Manobra). Era costume virem também as ciganas que vendiam na praça, com as suas trouxas de roupa (aquela que não tinham vendido no mercado) e que normalmente era roupa interior. Cuecas, ceroulas e sutiens, a dar para o XXL, para ser mais preciso, tudo bem embrulhado num lençol que depois era atado pelas quatro pontas. Bom, a completar o arranjo tínhamos o "7 dedos" a cobrador e o "5 litros" como motorista (estas eram as suas alcunhas, "7 dedos" porque o senhor efectivamente tinha uma mão deformada por algum acidente que tivera e tinha apenas dois dedos nessa mão, o que somado com os cinco que tinha na outra dava os tais sete, e "5 litros" porque era um motorista já com uns anitos e que tinha uma cara muito vermelha o que indiciava (na mente da malta estudantil) um consumo de pelo menos 5 (litros de tinto)ao dia. Diga-se em abono da verdade que apesar da alcunha eu nunca vi o senhor a beber.
Como a camioneta ia cheia de gente, as compras iam todas na bagageira que tinha aquelas portas enormes que eram fechadas a "martelo".
A viagem correu como de costume até chegarmos ás curvas. Aí, e ao fazermos a das laranjeiras, as ciganas começaram a gritar muito e nós ainda não nos tínhamos apercebido de nada, mas não tardou muito. O Autocarro parou de repente no meio da estrada e só se ouviu o "5 litros" a berrar com o "7 dedos": -"...ò meu ca****! então tu não fechaste a tampa?"
Foi aí que toda a gente caíu em si. Olhámos pela janela e ele era sardinhas, couves, sutiens, cuecas, carapaus, cestas... , tudo espalhado pelo alcatrão, tudo misturado. Claro, no momento seguinte, enquanto uns apanhavam as coisas e tentavam perceber se aquelas eram as suas sardinhas, as suas couves etc., outros tiveram que fazer um esforço considerável para não deixar que as ciganas dessem uma malha ao pobre do "7 dedos", ali mesmo. No fim muita coisa ficou lá pelo chão porque as pessoas já não conseguiram perceber o que era de quem.

Depois de acalmados os ânimos, a viagem lá prosseguiu com destino a Tomar e a cheirar um bocadito mais a peixe.

domingo, abril 09, 2006 1:17:00 da manhã  
Blogger Pedro Aniceto said...

Guardo de Alviobeira o meu primeiro despiste (sem consequências a não ser um ego bastante amachucado...) ao volante do meu bólide de então, um garboso Mini 1000. Nunca percebi o que é que me correu mal. E nem sequer foi a descer, foi a subir e numa curva que achei que nunca mais acabava. Destruí 3 couves e fiz o resto da subida muito conscenciosamente.

Agora que falo nisso, também fui fazer uma visita ao muro do poço da curva da Belavista, mas essa não conta porque foi de bicicleta e muitos anos antes...

segunda-feira, abril 10, 2006 1:44:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Segredos bem guardados...:)

Olha que eu também fui às couves no primeiro dia que levei o meu Fiat para Leiria...lá para os lados da Quinta da Sardinha - Ourém

Ainda hoje, quando lá passo, me pergunto como pode ter acontecido.

segunda-feira, abril 10, 2006 10:19:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

E tenho de ir conhecer essa maravilha da "Variante de Alviobeira". As coisas que me escapam!

terça-feira, abril 11, 2006 1:19:00 da manhã  
Blogger Pedro Aniceto said...

Esta é só para os "velhinhos" ou conhecedores da matéria, é uma espécie de teste de cultura geral de camionagem das Besteiras:

a) Como é que se chamavam as duas empresas de Camionagem que nos anos 70 faziam Lisboa (Defensores de Chaves) - Besteiras em OITO intermináveis e miseráveis horas, parando em TUDO o que era apeadeiro, estação ou qualquer ponto que tivesse um provável passageiro de braço no ar?

b) As duas empresas tinham carros pintados de duas cores. Quais eram essas cores à partida, sendo que à chegada, o verde vómito predominava?

c) As bagagens eram criteriosamente arrumadas e havia SEMPRE espaço para mais um cabaz, não sendo necessário fechar portas. Onde é que a bagagem era transportada?

d) Qual era o PIOR lugar para se viajar numa destas "máquinas infernais", principalmente se tivesse de fazer mais de 30 minutos sentado nele?

e) Quantos anos era ABSOLUTAMENTE necessário dizer que se tinha (anos a fio!) para não ser aplicado ao "puto" a tarifa de bilhete inteiro?

terça-feira, abril 11, 2006 1:29:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Não sou "velhinho", mas arrisco uma ou duas...

a)Salvo erro, uma das empresas era da família Vaz Serra (seria Companhia de Viação de Cernache, ou Empresa de Viação de Cernache?).
A outra não sei...

b)As cores: não faço a mínima ideia.

c)As Bagagens eram arrumadas no tejadilho.

d) Seria o famoso "banco do cobrador"? um lugarzinho pequenino que se abria junto à porta traseira?

e) 10, 11, 12?

Ricardo

terça-feira, abril 11, 2006 10:54:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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