Rádio Jovem de Tomar... lembram-se ?
Deixo aqui uma parte do texto que o "Tó da Rádio" escreveu e que é nem mais nem menos do que a história da Rádio Jovem :
Aos dezassete anos já andava metido na electrónica e no caminho das telecomunicações e radioamadorismo, uma experiência nova que adquiri junto dos mais velhos que conheci. Enquanto estudava (1978) tirei um curso de electrónica por correspondência ( Álvaro Torrão ).
Sempre tive um prazer imenso por ouvir e dar a ouvir música, sempre que podia fazia com os meus colegas bailes e matines dançantes em tudo que era sitio, nas escolas e garagens, até em minha casa, sem o conhecimento dos meus pais, pois na altura discotecas eram raras para a malta se divertir, especialmente nas tardes.
Numa casa, de duas divisões que eram dos meus avós, tive uma pequena oficina para os meus “hobis” e a outra divisão era um espaço de convívio para a malta mais amiga ler, ler não, mais para ver umas revistas que o meu cunhado me trazia da fábrica de Papel do Prado, revistas essas que não deixavam de ser apreciadas por todo o pessoal, eram da “Playboy” e “Louis”, revistas que eram Francesas mas com umas fotos esplêndidas à maneira.
O meu mano que era mais velho, já tinha em seu poder uma colecção invejável de música (em vinis), que não me deixava levar para lado nenhum. Daí a luta para poder ouvir a música no meu espaço ( oficina ), que era pouco distante da casa.
Em conversa com alguns amigos do ramo da electrónica e pessoas mais velhas, percebi que poderia construir um pequeno oscilador para funcionar em FM (frequência modulada ) e assim podia transportar o sinal via rádio de um espaço para outro, sem ter a necessidade de esticar fios.
Assim foi, meti mãos à obra para realizar a sua construção com muito custo, desde conseguir arranjar os componentes que eram necessários, o dinheiro para os comprar, em fim uma panóplia de situações que hoje dá vontade de rir, assim fiz esse pequeno oscilador.
Realizei a sua montagem, vem aí outro episódio para rir:
quando se ajustava a frequência com as mãos no componente, que era um condensador variável, credo fazia umas harmonias (interferências em várias frequências) de tal ordem que interferia com os televisores que se encontravam no seu alcance, as imagens viravam o boneco. Quero eu dizer, que os televisores que na altura eram a preto e branco não tinham grande blindagem de filtrar o sinal, ora a TV deixava mesmo de receber sinal televisivo. Uma brincadeira que arranjei para chatear os vizinhos que se encontravam junto à minha casa e até na minha própria casa, quando a minha mãe me chateava lá ia eu interromper a telenovela. Aquilo era um gozo para mim.
Mas falando da rádio, com esse pequeno oscilador consegui levar o sinal da aparelhagem do meu irmão até à minha oficina, foi um show. Só para relembrar que nesta altura os rádios que tinham FM não eram muito comuns, rádios a transístores eram muito poucos, os mais utilizados eram os de válvulas e nem todos tinham FM ( Frequência Modulada ).
Esta novidade foi aceite com esplendor e agrado, pela minha malta. Como fizeste isso? Como é que isso funciona?… Uma novidade de ficarem boquiabertos. O que é certo é que já estava a fazer rádio sem o saber. Isto em 1979.
A malta amiga começou a interrogar-me porque é não conseguiam ouvir em suas casas?
Mais uma luta para eu conseguir explicar esta situação! Porque não consegues ouvir em tua casa? Vamos lá ver o que se passa:
1º A casa estava dentro do alcance, do sinal oscilador;
2º O rádio estava sintonizado, dentro da frequência atribuída;
3º Não se obtinha qualquer algum sinal, nem das estações nacionais.
O problema é que o rádio não tinha antena, dai não se conseguir ouvir a música e se ela era boa.
Lá se esticou um fio de cobre e mais um estrondoso sucesso, no rádio já se conseguia ouvir a música que se estava a enviar da minha oficina e também chegava a casa de outros colegas.
Os restantes souberam da novidade e quiseram partilhar da mesma proeza, ouvir em casa a música que eu estava a transmitir da oficina. Estou a falar de um alcance de 200m.
Tinha outros colegas que eram mais longe, daí o inicio da luta da distância. Coloquei uma antena fora de casa e aí ganhei umas centenas de metros, instrui os colegas como é que podiam conseguir captar a portadora ( emissão ),fazer a sintonia em FM ( ajustar a frequência ) e colocar uma antena nos receptores. Consegui a todo custo implementar na minha rua a audição da minha transmissão.
Por outro lado as mães não deixaram de acompanhar esta iniciativa e também passaram a ser ouvintes, só que a música não era adequada para elas. Então fez-se luz na minha carola e montei um micro com uma misturadora de fabrico próprio, convidei uns colegas para falarem ao micro: a lerem a revista “MARIA”, o tempo, a grelha televisiva e até o horóscopo, para que os nossos familiares pudessem ouvir. Grande problema, ninguém mas ninguém queria dar a voz porque se sentia envergonhado, então eu peguei num martelo e disse-lhes:
ou falas ou levas uma martelada, muito chorosos lá leram o resumo da revista. As suas mãezinhas ficaram todas babadas de ouvirem os seus filhotes no rádio. Logo aí ganhamos ouvintes.
Tive que dar um nome a esta brincadeira e então por unanimidade escolhemos – “Rádio Juvenil” ,freq 104.00 Mhz, sim porque a malta era toda juvenil. (continua...clique aqui para ler o restante)