Estórias de Ferreira

Chamo-me Rui Antunes, sou de Ferreira do Zêzere e gosto de estórias... reais ou imaginárias, estórias da vida, de sucessos ou insucessos, prometo partilhar as minhas, espero pelas vossas...

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7.6.06

A Velha Mala

Sérgio Morgado em reportagem no mercado municipal a acompanhar as marchas de Santo António
“Ferreira do Zêzere também tem marchas de Santo António...” terá sido mais ou menos assim que ajudei a relatar para a rádio, pela primeira vez, as marchas que desfilavam nas ruas da vila. Foi também a minha estreia em reportagens.

Estava na rádio há pouco tempo ainda quando o José Carvalheira e o Sérgio Morgado me “cravaram” para os ajudar na reportagem, é claro que não tínhamos equipamento para tal mas nesse tempo a coisa arranjava-se sempre, bastava haver a vontade de fazer e alguma habilidade com o ferro de soldar e lá estávamos nós...

Nessa altura, no fim dos anos 80 do século passado, andava eu a estudar em Tomar, tinha já alguma participação na rádio no programa dos serões de sábado, o “Já Agora...”, onde eu comecei como aprendiz do José Carvalheira. Foi na semana antes das marchas que o Morgado e Carvalheira vieram ter comigo com uma lista de material que me pediram para comprar em Tomar numa loja de electrónica, não me lembro ao certo do que seria mas era certamente um conjunto de componentes necessários para transformar uma velha mala de documentos, uma mesa de mistura semi-avariada e um telefone velho numa MALA DE REPORTAGEM.

O Fernando, irmão mais velho do Zé, era (e ainda é) técnico de electrónica, ele era o especialista que foi capaz de por a rádio a emitir pela primeira vez e resolvia todos os “berbicachos” que apareciam.

Lá comprei o material que eles pediram e quando cheguei nesse dia na camioneta da rodoviária nacional às Besteiras fui direito a casa do José Carvalheira que morava ao pé da Quinta da Eira e lá estavam eles, na oficina do pai que era técnico de frio e reparava frigoríficos e arcas, às voltas com a mala, o Fernando a reparar a mesa e a fazer as ligações ao telefone e ao acoplador que enviava o som para o estúdio pela linha telefónica, o Zé e o Morgado estavam às voltas com uma chapa que cortaram para fixar tudo dentro da mala, depois do equipamento testado e arranjado colocou-se no sitio, aparafusou-se a dita chapa por cima para suportar a mesa de mistura e o telefone e forrou-se o interior da mala com um pano vermelho tipo cetim, ficou linda.

No dia das marchas eu estava em pulgas, vinha de Tomar da escola na velha camioneta da carreira e curva após curva ia pensando como estariam as coisas, fiquei super contente quando cheguei à vila, saí da camioneta e fui ter com o Zé e o Morgado que andavam às voltas com o fio para ligar a um telefone, o posto de reportagem estava montado junto ao “mouquito”. Depois da azáfama inicial de por tudo a funcionar começou o desfile, que acompanhámos pela primeira vez com transmissão em directo e integral, falávamos dos fatos, das coreografias que naquela altura ainda não eram assim tão elaboradas, dos arcos, dos balões e de tudo o que íamos vendo, foi uma grande noite aquela, que apesar da “rapa” de frio que passámos não nos desmotivou para continuar e a verdade é que essa mala acabou por fazer heroicamente muitas outras reportagens.