O Hino Nacional
Com a demolição da "Estalagem dos Vales" será interessante não deitar por terra também as memórias, aquelas que devem ser preservadas, nesse sentido deixo aqui um texto que relata a história do nosso Hino e a sua ligação à "Estalagem dos Vales" e consequentemente a Ferreira do Zêzere.
Um hino é um canto de louvor. Na Antiguidade cantavam-se hinos aos deuses. Na Europa multiplicaram-se e aperfeiçoaram-se os hinos religiosos desde a Idade Média.
A idéia de adotar uma música como símbolo de um país só surgiu no século XIX. Anteriormente era costume escolher para as cerimônias oficiais um tema composto em honra do rei.No tempo de D. João VI, por exemplo, tocava-se o "Hymno Patriótico", de António Marcos Portugal.
Em 1834, depois da guerra civil e do triunfo dos liberais, o rei D. Pedro IV aprovou uma lei que declarava uma obra sua - o "Hymno da Carta" - como hino nacional. Manteve-se em vigor até à queda da monarquia.Quando se implantou a República mudaram os símbolos do País. O projeto da nova bandeira desencadeou grandes discussões e apareceram dezenas de propostas. Quanto ao hino, não houve dúvidas. Toda a gente aprovou a escolha de "A Portuguesa", que já existia e era cantada com fervor em homenagem ao povo português e à História de Portugal.
O nosso Hino tem uma história peculiar
Em 1890, no tempo do rei D. Carlos, os países europeus fizeram uma partilha do continente africano. Portugal pretendia obter todos os territórios entre Angola e Moçambique. A França e a Alemanha aprovaram a idéia, mas a Inglaterra opôs-se porque queria dominar o interior de África desde o Cairo (Egito) ao Cabo (África do Sul).
Para obrigar Portugal a desistir, lançou um Ultimato: ou o governo português mandava retirar imediatamente os exércitos que tinha naquela zona ou declarava guerra a Portugal. Na altura não havia possibilidade de enfrentar um país tão rico e poderoso, a única hipótese era ceder. Foi isso que o rei e os ministros fizeram. O povo, porém, não aceitou, nem compreendeu e sentiu-se humilhado. Com que direito é que a Inglaterra fazia tais exigências, se os portugueses é que tinham sido os primeiros a navegar e a desembarcar naquelas paragens tão longínquas?
Houve muitas manifestações de rua e muitos artigos nos jornais contra o Ultimato, contra os ingleses, contra o governo e contra o rei. Houve quem pusesse uma bandeira nacional a meia-haste em sinal de luto.
O compositor Alfredo Keil, indignado também, atirou-se ao piano e compôs uma espécie de marcha militar onde vibrava toda a sua raiva. Depois dirigiu-se a casa do poeta Henrique Lopes de Mendonça, que morava num quarto andar, subiu as escadas esbaforido e pediu-lhe uma letra que encaixasse naqueles acordes e desse voz à revolta que se gritava nas ruas.
Trabalharam juntos alguns dias e logo que o poema ficou concluído deram-lhe o nome de "A Portuguesa".
A primeira edição da música e texto, foi paga pelos próprios autores. Teve uma tiragem de 12 000 exemplares que esgotou imediatamente! A partir de então nas ruas, nos cafés, nos clubes, nos teatros cantava-se a toda a hora "Heróis do mar, nobre povo..." E era a música de toda a gente. Os revolucionários republicanos tinham-lhe um apreço especial porque, além do poema lembrar a História de Portugal sem nunca falar no rei, incitava ao combate.
No dia 31 de Janeiro quando saiu à rua a primeira tentativa de revolução republicana no Porto, os revoltosos berraram "A Portuguesa", a plenos pulmões. Depois da revolta abafada, a música foi proibida. Mas continuou a ser cantada às escondidas.
Alfredo Keil passou o Verão de 1890 em Vales, perto de Frazoeira. Durante essas férias fez uma adaptação da música para que pudesse ser tocada por uma banda.
A Banda Sociedade Filarmónica Carrilense de Ferreira do Zêzere foi a primeira a executar em público o tema: "A Portuguesa". Nessa altura ninguém sonhava que viria a ser adotado como Hino Nacional."
OUÇA O HINO
14 Comments:
É realmente bonito ler esta história.
Pena que nem toda a gente a tenha em consideração, isso sim, me revolta.
Como tu dizes, amigo Rui Antunes, há que não deitar por terra as memórias. Eu acrescento: mesmo que para alguns elas não tenham importância, o que reflecte a sua incompetência.
Bruno, a demolição da antiga estalagem dos Vales é uma situação que deve servir de alerta para o futuro. Há que haver algum rigor na questão da preservação do património, isso é uma coisa que deve ser levada a sério ainda mais num concelho que tende a eleger o turismo como uma actividade de importância.
Já agora deixo aqui também uma interrogação ? no PDM está prevista uma "Carta do Património" que deverá englobar todas as quintas, solares, casas, fontanários, etc... que não sendo classificados têm uma importância histórica no concelho, existindo regras especificas de salvaguarda que previnem situações como esta. Essa carta existe ? está actualizada ? sendo esta uma informação que permite nomeadamente aos proprietários saberem o que podem ou não fazer não deveria estar por exemplo disponível no site da câmara assim como o próprio PDM ?
A Carta do Património não existe, mas existe um Anexo ao PDM que referência a casa como "Património Não Classificado", mas que obedece a regras concretas.
Então temos de saber que regras são essas e se foram integralmente cumpridas.
É o que o Partido Socialista quer esclarecer.
Uma nota: A imagem que tens aqui não é da partitura original (nem tu dizes que é, claro está). A letra actual é apenas uma fracção do original (que por norma não se canta) e tinha no final uma referência pouco abonatória aos ingleses já que a estrofe final era "contra os bretões, marchar, marchar". Aliás tenho um amigo inglês que me diz muitas vezes "Pá, desde aquela coisa do Ultimato que vocês se vingam no futebol..."
hehehe... exacto, por acaso ainda à dias estive a ler esse original.
Olá,
Aqui vai mais um contributo para se perceber o Hino completo.
(a fonte deste texto está no final)
Letra de “A Portuguesa”
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal,
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós,
Que há - de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os canhões marchar, marchar!
Antecedentes do Hino Nacional
Se a Bandeira Nacional é um símbolo visível, o Hino Nacional constitui a exteriorização musical que proclama e simboliza a nação.
Só a partir do século XIX os povos da Europa criaram o uso de cantar os hinos, quando um movimento de opinião levou a que cada estado estabelecesse uma composição, com letra e música que fosse representativa e oficial. Até então os povos e os exércitos conheciam apenas os cantos e os toques guerreiros próprios de cada corpo e as canções relativas aos acontecimentos dignos de memória.
Durante a monarquia, o ideário da Nação Portuguesa estava consubstanciado no poder do Rei. Não havia a noção de um hino nacional, e por isso as peças musicais com carácter público ou oficial identificavam-se com o monarca reinante.
Neste contexto, ainda em 1926, em Portugal era considerado como hino oficial o "Hymno Patriótico", da autoria de António Marcos Portugal. Este hino inspirava-se na parte final da Cantata "La Speranza o sia l`Augurio Felice", composta e oferecida pelo autor ao Príncipe Regente D. João quando este estava retirado com a Corte no Brasil, e que foi representada no Teatro de S. Carlos em Lisboa, a 13 de Maio de 1809 para celebrar o seu aniversário natalício.
A poesia do "Hynmno Patriótico" teve diferentes versões face ás circunstâncias e aos acontecimentos da época, tornando-se naturalmente generalizada e nacional pelo agrado da sua expressão marcial, que estimulava os ânimos aos portugueses, convidando-os à continuação de acções heróicas.
Com o regresso do Rei ao País, em 1821, o mesmo autor dedicou-lhe um poema que, sendo cantado com a musica do hino, rapidamente se divulgou e passou a ser entoado solenemente.
Entretanto, na sequência da revolução de 1820, foi aprovada em 22 de Setembro de 1822 a primeira Constituição Liberal Portuguesa, que foi jurada por D. João VI, D. Pedro, então Príncipe Regente no Brasil, compôs o "Hymno Imperial e Constitucional", dedicado à Constituição.
Após a morte do Rei, e com a subida de D. Pedro IV ao trono, este outorgou aos portugueses uma carta Constitucional. O hino de sua autoria generalizou-se com a denominação oficial como "Hymno nacional", e por isso obrigatório em todas as solenidades públicas, a partir de Maio de 1834.
Com a música do "Hymno da Carta" composeram-se variadas obras de natureza popular (modas) ou dedicadas a acontecimentos e personalidades de relevo, identificando-se em pleno com a vida política e social dos últimos setenta anos da monarquia em Portugal.
Nos finais do século XIX, "A Portuguesa", marcha vibrante e arrebatadora, de forte expressão patriótica, pela afirmação de independência que representa e pelo entusiasmo que desperta, torna-se, naturalmente e por mérito próprio, um consagrado símbolo nacional, na sua versão completa:
I
Heróis do mar, nobre povo,
Nação valente, imortal
Levantai hoje de novo
O esplendor de Portugal!
Entre as brumas da memória,
Ó Pátria, sente-se a voz
Dos teus egrégios avós
Que há-de guiar-te à vitória!
Às armas, às armas!
Sobre a terra sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar Contra os bretões marchar, marchar!
II
Desfralda a invicta Bandeira,
À luz viva do teu céu!
Brade a Europa à terra inteira:
Portugal não pereceu
Beija o solo teu jucundo
O oceano, a rugir d`amor,
E o teu Braço vencedor
Deu mundos novos ao mundo!
Às armas, às armas!
Sobre a terra sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os bretões marchar, marchar!
III
Saudai o Sol que desponta
Sobre um ridente porvir;
Seja o eco de uma afronta
O sinal de ressurgir.
Raios dessa aurora forte
São como beijos de mãe,
Que nos guardam, nos sustêm,
Contra as injúrias da sorte.
Às armas, às armas!
Sobre a terra, sobre o mar,
Às armas, às armas!
Pela Pátria lutar
Contra os bretões marchar, marchar!
Porém, o Hino, que fora, concebido para unir os portugueses em redor de um sentimento comum, pelo facto de ter sido cantado pelos revolucionários de 31 de Janeiro de 1891, foi desconsiderado pelos monárquicos e proibida a sua execução em actos oficiais e solenes. Quando da implantação da República em 1910 "A Portuguesa" aflora espontaneamente de novo à voz popular, tendo sido tocada e cantada nas ruas de Lisboa.
A mesma Assembleia Constituinte de 19 de Junho de 1911, que aprovou a Bandeira Nacional, proclamou "A Portuguesa" como Hino Nacional.
Era assim oficializada a composição de Alfredo Keil e Henrique Lopes de Mendonça que, numa feliz e extraordinária aliança de música e poesia, respectivamente, conseguira interpretar em 1890, com elevado sucesso, o sentimento patriótico de revolta contra o ultimato que a Inglaterra, em termos arrogantes e humilhantes, impusera a Portugal.
Em 1956, constatando-se a existência de algumas variantes do Hino, não só na linha melódica, como até nas instrumentações, especialmente para banda, o Governo nomeou uma comissão encarregada de estudar a versão oficial de "A Portuguesa", a qual elaborou uma proposta que, aprovada em Conselho de Ministros em 16 de Julho de 1957, é a que actualmente está em vigor.
Fonte:
WebSite do Ministério da Defesa Nacional – http://www.mdn.gov.pt/Defesa/Simbolos/Simb_Hino.htm
Eu não consigo imaginar esta dupla a ir de Lisboa a Ferreira, coisa que na altura devia ser dia e meio de viagem, para, na paz bucólica dos campos, conceber uma composição guerreira e de manifesto sentido bélico... E também não estou a ver o Keil a receber um telefonema com uma encomenda... Vocês conseguem abstrair-se do "Ferreirismo" e pensar nisto friamente?
Em tempos, uma dupla de historiadores amigos fez um comparativo das letras dos hinos das diversas républicas por causa de uma acusação de "violência" das letras que um colega americano tinha mencionado num congresso. Já lá vão uns anos, mas recordo-me que o hino mais "pacífico" é o japonês que fala de cumes de neve que brilham, das flores que florescem e dos passarinhos que voam e o francês é sem sombra de dúvida o mais selvagem (gargantas cortadas dos filhos e esposas). Há uma estrofe do hino italiano que é muito parecida com os "nossos" canhões. Não foi há muito tempo que na Academia das Ciências se discutiu uma possível sugestão de mudança de hino (já não me lembro da razão, mas era um exercício publicitário de marketing).
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Bom, eu nunca me dediquei a fundo a esta questão, mas que o Alfredo Keil esteve hospedado na dita estalagem e que desenhou inclusivamente uns esboços de casas da zona, disso não há dúvida. Tal como não há dúvida de que foi no Carril que a Banda (então Carrilense, agora Frazoeirense) tocou pela primeira vez os acordes (certamente para que o autor pudesse dar alguns retoques na composição e ouvir a sua obra ao vivo). Já o texto, não há nenhum indício de que tenha sido escrito por essas bandas!
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