Estórias de Ferreira

Chamo-me Rui Antunes, sou de Ferreira do Zêzere e gosto de estórias... reais ou imaginárias, estórias da vida, de sucessos ou insucessos, prometo partilhar as minhas, espero pelas vossas...

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16.6.06

O Microfone de Cartão


Era uma vez um professor, ele nunca me deu aulas, nem sei mesmo se terá dado alguma vez aulas desde que o conheço e já lá vão pelo menos 20 anos, mas sempre foi assim que o tratei, professor José Vaz.

Quando fui para o ciclo, para a escola C+S, o professor Vaz era o homem do SASE (Serviço de Acção Social Escolar), na prática era ele que zelava pela atribuição dos subsídios aos alunos mais com maiores dificuldades económicas, era com ele que íamos ter sempre que precisávamos de alguma coisa relacionada com o apoio à compra dos livros escolares ou subsidio para as refeições.

Não se pode dizer que fosse um homem simpático, normalmente só falava com ele em último recurso, não sei se era por causa das respeitosas barbas ou por causa do seu porte ou da sua voz forte, mas a verdade é que havia um certo respeito pelo professor Vaz, uma distância que ele sabia manter e que não era de todo prejudicial.

Este era também um homem dedicado a causas, conheci-lhe essa faceta já depois de eu ter ido estudar para Tomar, foi pouco tempo depois de entrar para a rádio que me cruzei com ele no sótão do Azevedo, nos antigos estúdios em Águas Belas. Foi para mim uma surpresa quando o vi, não estava a imaginá-lo ali, no meio de um conjunto de “miúdos”, mas a verdade é que ele estava lá, ele sabia a força que a rádio tinha como meio de comunicação local, foi isso que o moveu para fazer um programa de entrevistas, para onde convidou muita gente anónima, dando-lhe voz, levantando os problemas e descobrindo algumas pérolas, desde poetas populares cujos poemas estarão escrevinhados em pedaços de papéis pedidos no fundo de uma qualquer gaveta, a músicos “de ouvido” que não precisam de pauta para acertar nas teclas gastas da concertina.

Foi naquele estúdio pequeno que pela primeira vez me sentei frente a ele no papel de entrevistado, quando o programa era sobre Paio Mendes e eu tinha a meu cargo um grupo de jovens ligados à Igreja, a reivindicação era por causa da construção de um campo de futebol na freguesia, um assunto que me tinha deixado irritado sobretudo após pedir ajuda à junta de freguesia tendo o presidente respondido : “um campo de futebol ? isso só serve para dar ganho aos sapateiros”.

Foi também nesse mesmo estúdio que um dia o vi recortar um microfone de cartão e a pendurá-lo com uma guita no local onde devia existir um microfone verdadeiro para os entrevistados... ao mesmo tempo que com a sua voz forte dizia “não há condições!”

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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quinta-feira, abril 26, 2007 2:41:00 da tarde  

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