Estórias de Ferreira

Chamo-me Rui Antunes, sou de Ferreira do Zêzere e gosto de estórias... reais ou imaginárias, estórias da vida, de sucessos ou insucessos, prometo partilhar as minhas, espero pelas vossas...

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20.2.06

Os rádios dos meus avós



Comecei a ouvir rádio muito cedo, era em casa, nas Courelas um pequeno lugar de Paio Mendes, que junto ao velho transistor a pilhas do meu avô, o Joaquim do “Olheiro”, que ouvia os sons mágicos que saíam de dentro daquela caixinha. Fazia-me confusão, ouvir as vozes dos “senhores” que falavam, como era possível ? como estariam pessoas dentro daquela caixa tão pequena ? era um mistério e por mais que tentassem explicar-me que não estava lá ninguém, que essas vozes vinham pelo ar e entravam pela fina antena metálica que apontava para o céu a verdade é que isso não me entrava na cabeça.

Fruto da minha curiosidade, acabei por descobrir a rodinha que permitia mexer o ponteiro vermelho que se movimentava ora para a esquerda ora para a direita, provocando uns ruídos esquisitos que, sempre que se acertava na frequência, se transformavam em mais música, mais conversa, nessa altura eu ouvia quase sempre a Rádio Renascença ou a Antena 1, as piratas ainda não existiam e o meu avô também não me deixava fazer grandes “avarias” com o aparelho.

O outro meu avô, o Joaquim “resineiro” da Levada, também tinha um rádio, mais velho, era um TELEFUNKEN alemão, que funcionava a válvulas e ainda não tinha Frequência Modulada, era só o AM (onda média) e SW (onda curta) que permitia descobrir outros sons.

O meu pai contava as estórias das proezas do Alberto (relojoeiro), rapaz da mesma geração, que cedo se interessou pela electrónica, sendo essa ainda hoje a sua actividade profissional. Ele teria usado as peças de dois rádios para construir um pequeno emissor, colocando a antena em cima de uma pinheira e de lá ia falando ao microfone numa emissão que o meu pai e os meus tios escutavam no velho telefunken: “alô alô, aqui fala da cova da raposa...”.

22 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ena ena... os míticos rádios a válvulas!

Agora despertaste-me a curiosidade para saber o que é feito dos rádios dos meus avós... sim... ainda me lembro deles... Lá terei de ir basculhar por entre as "reliquias" a ver se encontro um deles! Vamos lá ver se ainda saem sons mágicos dentro daquela caixinha... ;)

Abraço,
Pedro Lopes

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 5:38:00 da tarde  
Blogger Rui Antunes said...

Por falar em rádios e emissores... aquele emissor que construiste ainda funciona ?

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 6:24:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Sinceramente nem sei bem onde anda isso, mas ainda deve funcionar! :)

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 7:14:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

As telefonias a válvulas eram já uma grande modernice....
Não se esqueçam que a electricidade só chegou à Paio Mendes nos primeiros anos da década de 60 do século anterior....
A Cagida, ali mesmo ao lado, só teve electricidade no verão de 74.
Eu recordo a alegria do meu avô quando, durante umas férias de verão que aí passamos, os meus pais levaram um rádio a pilhas que lhes tinha sido emprestado.
Não sei mesmo se na casa do Sr. Prof. Camilo ou na Casa do Sr. Capitão existia alguma telefonia mesmo a pilhas.
Só me lembro de se ir às Besteiras, à casa do Sr. Garcez (salvo erro) buscar o Diário de Notícias pela manhã e a música que se ouvia (pouca) era no final das debulhadas e descamisadas tocada por um "
harmonio".
Nesse ano, os meus pais trouxeram para Lisboa a incumbência de comprar um rádio igual aquele.
E que moderno era o meu avô já com um rádio a pilhas.
Um abraço

Cristina

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 7:26:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Olá, eu sou o Pedro Aniceto, o percursor dos caminhos do Rui nalguns dos brinquedos do Joaquim Nunes... Quem é a Cristina? Alguém que eu devesse conhecer ou ter conhecido?

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 11:50:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Rui, temos de recuperar para aqui algumas das histórias do Cão e Pulgas e do Diário dos 6 Mac Users que dizem respeito às Courelas. (As Courelas deviam ser elevadas a Património Nacional!)

segunda-feira, fevereiro 20, 2006 11:52:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Este "Alberto" não tinha uma loja de electrodomésticos em Ferreira?

terça-feira, fevereiro 21, 2006 12:07:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Amigo: acho que "começa" bem o seu blog. Deverá saber que a palavra "estória" é um lamantável modernismo que não existe neste belo edioma de Camões. Será moda? Um abraço!

terça-feira, fevereiro 21, 2006 11:58:00 da manhã  
Blogger Rui Antunes said...

Olhe que não... digamos que é antes uma palavra usada no português arcaico que foi aqui "repescada" por mim por achar ser o seu significado o mais apropriado, no entanto, como esta dúvida é um facto amplamente discutido, deico aqui cópia de um artigo que pode ser consultado no sitio : http://corrector.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_02.html

«
Não existe diferença significativa entre os vocábulos “estória” e “história”, que partilham a mesma etimologia (do grego ‘historía’).

Contudo, “estória” é a grafia antiga de “história” que, entretanto, caiu em desuso no português falado em Portugal.

Por conseguinte, este vocábulo não aparece registado nos mais recentes dicionários de língua portuguesa editados em português de Portugal.

Porém, ainda o podemos encontrar no Michaelis. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, editado em São Paulo (em 2002), com um significado diferente de “história”.

Estória (segundo Michaelis):

1) Narrativa de lendas, contos tradicionais de ficção.

*estória em quadradinhos = série de desenhos, em uma série de quadros, que representam uma estória, com legendas ou sem elas.

**estória da carochinha = conto da carochinha

*** estória do arco da velha = coisas inverosímeis, inacreditáveis.

**** estória para boi dormir = conversa enfadonha, com intuito de enganar.

***** deixar-se de estórias = evitar rodeios, indo logo ao ponto principal.


No que se refere aos dicionários mais recentes editados em Portugal, todas as acepções supra-referidas são parte integrante da entrada “história”.


História

1) Narração ordenada, escrita dos acontecimentos e actividades humanas ocorridas no passado.

2) Ramo da ciência que se ocupa de registar cronologicamente, apreciar e explicar os factos do passado da humanidade em geral, e das diversas nações, países e localidades em particular.

3) O futuro, considerado como juiz das acções humanas (ex: A história o julgará.)

4) Biografia de uma personagem célebre.

5) Exposição de factos, sucessos e particularidades relativas a determinado objecto digno de atenção pública.

6) Narração de uma aventura particular.

»

num comentário a este artigo pode ler-se :
«
É de referir que o vocábulo "estória" consta no Dicionário de Língua Portuguesa de 2004 da Porto Editora, como sendo «s.f. história de carácter ficcional ou popular; conto; narração curta (De história, ou do ing. story, «id»)». Enviado por Bruno em setembro 8, 2005 02:16 AM
»

... portanto não vamos ser tão rigorosos e afinal aquilo que se pretende aqui no blog é contar "estórias" e não narrar factos "históricos"

terça-feira, fevereiro 21, 2006 1:45:00 da tarde  
Blogger Rui Antunes said...

Pedro

Não tenho a certeza se o Sr Alberto tinha uma loja de electrodomésticos em Ferreira, eu só conheço a oficina e loja que ainda tem hoje no Carril.

Concordo com essa "elevação" das Courelas a património nacional, venham de lá essas histórias/estórias :) já agora deixa aqui também os links para os blogs

terça-feira, fevereiro 21, 2006 1:51:00 da tarde  
Blogger Rui Antunes said...

Cristina

Corrija-me se estiver errado mas penso que Paio Mendes foi das primeiras freguesias do concelho a ter electricidade, muito por obra do presidente da junta de então, o Sr. Moreira.

terça-feira, fevereiro 21, 2006 1:54:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Estou de acordo com o artigo que cita... mas mantenho o meu ponto de vista. Se for ao Dicionário da Academia, de facto, não aparece lá. Eu apenas disse mal em afirmar que a palavra não existia porque, na verdade, consta do Dicionário de sinónimos da Porto Editora e da Enciclopédia Portuguesa-Brasileira como grafia antiga de história.E, pelo que diz, também de mais alguns que não possuo.
Parece que esse arcaísmo apareceu há poucos anos, creio que por "snobismo".Quanto ao rigor este será uma maneira pessoal de estar : há quem goste de o ter e haverá outros que não. Um abraço. M. Ribeiro

terça-feira, fevereiro 21, 2006 2:10:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Mandei-te a primeira que encontrei, "O Borda d'Água", publicada em Novembro de 2003

terça-feira, fevereiro 21, 2006 2:16:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

E mais uma, "A sombra" que é da mesma altura.

terça-feira, fevereiro 21, 2006 2:19:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Apesar de contribuir com frequência para alguns blogs, actualmente só tenho um em actividade (frenética). Chama-se "Reflexões de um cão com pulgas" e pode ser encontrado em http://www.caoepulgas.blogspot.com

terça-feira, fevereiro 21, 2006 2:22:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Respondendo ao Sr. Pedro Aniceto

Penso que a freguesia da Paio Mendes foi das primeiras freguesias do concelho a ter luz, mas não tenho a certeza.
Sei apenas que terá sido por volta do ano de 1960 e que a lâmpada de 60 "velas" que o meu avô mandou colocar na sala era, naquela altura, motivo de espanto por ser demasiado "forte".
Cristina

terça-feira, fevereiro 21, 2006 7:20:00 da tarde  
Blogger Rui Antunes said...

Alguém por aí conhecia o Sr. Moreira ? lembro-me dele quando eu era miudo e ia à loja do Sr. Pedro, à mercearia e ele estava por lá, fazia-me uma certa confusão a forma como ele conseguia contar o dinheiro, uma vez que era cego... só recentemente soube, pelo meu primo Zé Luis de Braga, que ele havia sido presidente de junta e foi o grande impulsionador para que a luz eléctrica tenha vindo para Paio Mendes, foi nessa altura que foi construída a famosa "cabine", junto ao "ribeiro das tendas" que recentemente foi demolida dando lugar a um vulgar posto de transformação... assim se perde a misticidade da curva da "cabine".
Sei também que era artista conceituado, mas pouco sei da obra dele.
Se alguém conhecer bem a vida deste homem por favor partilhe-a conosco aqui, obrigado.

terça-feira, fevereiro 21, 2006 8:17:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Eu já conheci a "novíssima" cabine, quase como se ela tivesse sido construída de véspera. E suponho que estamos a falar daquela que para mim sempre foi "a cabine da Paio Mendes", logo CRGE (Companhias Reunidas de Gás e Electricidade) estampado a azul (seria azul?), num losango da mesma cor... Será sempre para mim um marco na paisagem, porque as referências eram sempre "antes da curva da Paio Mendes" ou depois desta. No primeiro ano em que o teu pai Mário Antunes, efectuou a primeira sementeira de batatas na Levada (a Levada estava para as Courelas como a Bósnia Herzegovina para Portugal, isto é, longe como o caraças...), eu decidi que a coisa justificava a ida da minha resplandescente Órbita azul (sempre lhe chamei assim embora não tivesse alguma vez tido uma Órbita de outra cor...) e a tragédia aconteceu precisamente a meio da curva. Saibam os leitores mais atentos (ou os que tiveram a coragem de chegar até aqui), que na altura a estrada da Paio Mendes não era asfaltada. Na verdade aquilo pouco tinha de estrada, o alcatrão acabava uns míseros 50 metros à saída das Besteiras e depois era um mar de regos, água e lama até se chegar ao adro da igreja. (Tenho 41 anos e ainda me recordo de cada bossa do caminho - e se havia muitas, carago! - das Courelas à Paio Mendes), dizia eu que em plena curva, uma cova cheia de água escondia os dentes afiados de uma pedra cortante. Um salto, um grito de dor, uma aterragem em pleno charco, que se lixem os arranhões, os joelhos, as nódoas negras, a Órbita parecia bem de saúde, digo bem, parecia, um pneu estourado e horror dos horrores, desgraça das desgraças, um raio partido, um cubo de roda rachado. "Deixa lá que isso arranja-se", suprema humilhação, "Leva-a à mão, aquilo era quase como empurrar um Ferrari, vergonha das vergonhas...". Coisas há que moldam os miúdos, fi-la já, a curva maldita, dezenas de vezes de automóvel e vez não há que não me recorde desse episódio que não me leve o olhar às pedras, aos cuidados necessários com os pneus e as jantes, como quem pensa "vê lá, vê lá, que isto agora custa mais a empurrar à mão"...

terça-feira, fevereiro 21, 2006 11:56:00 da tarde  
Blogger Pedro Aniceto said...

Saibam V.Exas que se não me doerem os dedos, terei, por imperativo de consciência, de trazer a estas páginas uma resma de coisas ou de pessoas que merecem um lugar destacado neste blog. Porque não quero de algum modo monopolizar estas caixas, e porque temos necessariamente visões diferentes por questões de idade, deveríamos acordar que no meu imaginário há duas pessoas que eu não deixarei passar em claro, a saber o Sr.Pedro (de quem o Rui já falou num dos últimos comentários) e o Acácio. Sei que tenho para aí algures um texto sobre o José Sebastião, outra personagem Courelense a quem estarei para sempre grato. Talvez tenha ele as honras de primazia (até porque o texto já está feito desde o seu falecimento), mas se quiserem ajudar-me sobre o Acácio, não se acanhem!)

quarta-feira, fevereiro 22, 2006 12:03:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

E a primeira vez que partecipo neste blog e é com muito gosto que recordo aqui algumas situações como aquela do acácio para comer a comida toda!!!

quinta-feira, março 16, 2006 12:02:00 da tarde  
Blogger Rui Antunes said...

Bem vindo ao blog Luis Rosa.

quinta-feira, março 16, 2006 4:58:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

em relação á loja do ti pedro, ainda me lembro de comprar umas pastilhas a 50 centavos cada, que eram embrulhadas, como os rebuçados...
ainda não á muito tempo bebi café da máquina que existia na loja nessa altura....
essa máquina encontra - se no vale sacho em casa do filho do falecido zé de dornes o zè manuel...

sexta-feira, março 17, 2006 4:43:00 da tarde  

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